sábado, 31 de março de 2012

Entrando no ritmo

Aos poucos a vida vai ganhando ares de rotina. Durante a semana ir trabalhar, ter sábado e domingos livres pela primeira vez na vida é incrível (apesar de muitos acharem que é moleza, vida de estudante cansa...). 
O que ainda não me dá descanso é a burocracia: primeiro tive de organizar minha vida no Brasil, agora preciso me organizar aqui. E burocracia holandesa é prova de resistência. Já tive de tirar raio-X do pulmão pra provar que não tenho tuberculose, ir até outra cidade entregar um maço de papéis (pro qual o atendente apenas deu uma olhada, disse estar ok e me mandou esperar três semanas até conferirem tudo) e ir até a prefeitura três vezes (eles erram feio às vezes e demoram pra admitir). Ainda tem a questão do seguro-saúde (sabia que você é multado aqui se não tiver um seguro-saúde??), da conta do banco, sem falar nos documentos que preciso mandar pro Brasil provando que estou aqui... Mas tudo isso é secundário, sério mesmo!, esse é o procedimento normal, leva tempo, é chato, mas, enquanto vou arrumando a papelada, aproveito e curto a paisagem de cada lugar novo que tenho de ir (e pra mim isto é convite pra diversão!).
Falando em paisagem: já que tive de ir quase até o litoral levar documentos, por que não passar na praia? De quebra no meio do caminho passei por Haia. E agora chega de falar:

Como ser rico na Holanda: casa na praia, terreno só pra você, muitas sacadas (repararam que não existem muros?!) 
Lotada no calor, vazia no inverno: Scheveningen, a mais famosa praia

Que tal um suco de açaí sabor goiaba??

Haia sua linda!

terça-feira, 27 de março de 2012

Os vilarejos

Meu primeiro choque por aqui foi descobrir que eu não moro em uma rua... Claro que na frente da minha casa passam carros e pessoas, mas a definição de ruas como endereço é usada apenas no centro da cidade (como a avenida principal Amsterdamstraatweg, um nome de rua tão simpático pra se viver!). Nos bairros o endereço é diferente, aliás, bairro?? Isso também não é o mais comum por aqui...

Os homens moram nestas terras baixas desde a pré-história (usando pedras, caçando, plantando flores, drenando a água), mas a sociedade como conhecemos hoje teve seu nascimento na Idade Média; nessa época ficaram mais explícitas as classes sociais, o trabalho especializado, o comércio ganhou força e formaram-se os vilarejos. Esses vilarejos eram pequenas regiões onde se concentravam as moradias, o próprio comércio e as organizações sociais, onde todos podiam se conhecer e conviver da melhor forma que a época permitia. Ao longo dos anos alguns vilarejos cresceram e viraram cidades, outros sumiram de vez, alguns permanecem ainda devem existir.
E é assim, baseado nestes vilarejos antigos que aqui as cidades são endereçadas. Eu moro no vilarejo de Kamelenspoor ("a trilha do Camelo": não, nunca existiram camelos por aqui, eu já perguntei!, ainda mais porque eles não aguentariam o friozinho do inverno). Ao redor temos o vilarejo de Bisonspoor, de Zebraspoor, o Antilopespoor... vocês pegaram a ideia. 

"A trilha da Zebra"

Os vilarejos atuais são apenas para moradias, eles até têm um mercado ou outro, mas são para compras menores. Dentro dos vilarejos não há nomes de ruas, a identificação é apenas pelo número das casas, portanto não podem existir números repetidos. E de novo esqueça a lógica: a formação das quadras é completamente aleatória (pra se perder é uma beleza, ainda mais com as casas todas iguais!).

Eu moro bem ali, ó...

O legal dos vilarejos é a ideia de comunidade que criam. Eles têm site próprio (http://www.zebraspoor.nl/ ), onde as pessoas discutem sobre limpeza, segurança e outros pontos de interesse comum. Espalhados pelas vielas também existem parquinhos para as crianças e até campo de futebol. Aqui as crianças brincam mesmo: como elas conhecem a vizinhança é muito fácil fazer amigos!


Os carros ficam nos estacionamentos ao ar livre em frente às casas, dá até pra deixar o carro destrancado, ninguém mexe.
Mas quando chega a noite todos se recolhem, mesmo que o dia tenha sido quente, a noite vai ser fria. Olhando pela janela está alguém cozinhando ou assistindo TV, uma noite normal em apenas mais um vilarejo em mais uma cidade do mundo...

quarta-feira, 21 de março de 2012

Utrecht

Utrecht (e creio que todas as cidades holandesas) está repleta de belíssimos canais, cortando a cidade em todos os sentidos; aqui não passam canoas como em Amsterdam, mas algumas vezes é possível ver famílias de marrecos nadando calmamente. Ao passar dos anos, a construção da cidade teve de se adaptar a estes canais, assim esqueça ruas em linha reta, a maioria das ruas fazem curvas depois de curvas (e no tempo das charretes não havia muita preocupação com planejamento urbano, eu imagino). 

Um dos muitos canais: pra que lado a água corre??

E não só os canais são encantadores: as ruas muito bem cuidadas, as casas e lojinhas de tijolos à vista, preservando a arquitetura antiga e o formato quadrado (afinal, retângulos aproveitam muito melhor o espaço disponível).

Cantos para os pedestres, centro para bicicletas e motonetas (nada de carros aqui!)

Se você reparou bem na foto acima já sabe o próximo assunto: as bicicletas.
As famosas fiets são realmente uma paixão nacional. As ciclovias vão para todos os lugares possíveis (e são identificados pela cor vermelha no chão, então cuidado ao andar por aí!), não por acaso existem semáforos específicos para bicicletas. Nunca pensei que teria mais cuidado com bicicletas no trânsito do que com carros, em alguns momentos elas quase congestionam, quando o semáforo abre é preciso redobrar a atenção, elas vêm de todos os lados. Existem locais específicos para deixar as bicicletas, normalmente com barras metálicas para passar uma corrente (pois é, o crime local é furto de bicicleta); nos locais mais movimentados existem estacionamentos exclusivos de bicicletas, alguns até com dois andares e... sempre muito cheios!

Onde será que coloquei a minha bike?? (Estacionamento no Utrecht Centraal Station)

A questão da arquitetura em linhas retas é muito interessante: a Holanda não é um país grande e boa parte do território era tomado pela água. Os holandeses precisaram se adaptar a este ambiente, assim surgiram as casas estreitas, altas (a maioria com dois ou três andares) e coladas umas nas outras. Aqui ter um grande terreno próprio com quintal é, segundo me contaram, algo para ricos. O estilo sempre quadrado dos prédios conferiu uma marca própria da Holanda; poderia ser algo feio, mas o resultado, na minha opinião, é muito bonito.
Vale muito a pena andar pela cidade, conhecer as lojinhas, ver as velhas igrejas, sentar nas mesinhas ao lado dos canais para tomar café... O clima está agradável, os vendedores sempre lhe cumprimentam com um sorriso no rosto e a vida vai bem (isso é o mais importante).

E agora um presente para os meus amigos biotecs: por acaso, alguém quer comprar roupas em Utrecht?




domingo, 18 de março de 2012

Viagem

Foram 11h de voo de São Paulo até Amsterdam.
É só entrar no avião e esqueça o Português, a maioria das aeromoças só fala Inglês ou Neerlandês (pois é, esse é o nome oficial da língua dos Países Baixos, que é o nome oficial da Holanda). 
O aeroporto de Amsterdam, conhecido como Schiphol, é muito grande, a maioria dos voos da Europa passa por ele devido a sua localização central no continente. Eu não tinha ideia para onde ir, então apenas segui o fluxo... E continuei seguindo o fluxo, seguindo o fluxo, seguindo... Até a hora em que pensei que aquilo não fazia mais sentido e perguntei para alguns brasileiros perto de mim "onde ficam as bagagens?", eles riram e falaram "bem ali, na sua frente...", pois é, eu já estava no lugar certo sem saber. Foi só passar pela terceira equipe de policiais (que quiseram saber direitinho por que eu estava ali), pegar minha mala e poder entrar de vez neste país.
Depois de tantas horas de voo, nao estava nem aí para o cansaço, foi muito bom ver pela primeira vez as terras holandesas. Foi um misto de "consegui, eu cheguei" com um pouco de "e agora? como vai ser?". Aí foi só respirar fundo e... ir em frente!!



sexta-feira, 16 de março de 2012

1, 2, 3...

E agora chegou minha vez!
Depois de meses de preparação, muita correria para arrumar os documentos, vários imprevistos e muita determinação, é hoje que eu vou.
Meu destino? Utrecht, a 40 km de Amsterdam. Lá fica a Centraalbureau voor Schimmelcultures (CBS-KNAW Fungal Biodiversity Centre), onde vou fazer um estágio de um ano.
Aqui fica um pouco da minha vida na Holanda, os costumes, as diferenças, as memórias da vida no velho mundo,  vai ser uma surpresa para todos nós!
Espero que você goste de passar por aqui tanto quanto eu estou me sentindo feliz em viajar! Até logo, depois te conto foi a viagem e a minha chegada.

(Na verdade este texto foi escrito no dia 12 de março, só faltou publicar...)