sexta-feira, 18 de maio de 2012

Koninginnedag ou Queen's Day ou O Dia da Rainha

E dia 30 de abril foi o Koninginnedag - o Dia da Rainha!!
A data foi criada há mais de 100 anos pra comemorar o aniversário do rei ou da rainha regente. Só que depois que a rainha Juliana abdicou ao trono em favor da sua filha, Beatriz (ou Beatrix no original), a nova rainha decidiu deixar a comemoração na data do aniversário de sua mãe Juliana (segundo dizem em respeito a ela, que ainda estava viva, e também porque o aniversário da rainha Beatriz é em janeiro, quando faz um friozinho de bater os dentes por aqui).
De repente o laranja começa a aparecer por todos os lados, nas roupas, nas vitrines, nas casas há bandeiras penduradas junto com fitas alaranjadas (seguinte: o laranja não está na bandeira, a ligação com a cor surgiu a partir da atual família real, os Oranje de Nassau - oranje, orange, laranja).
A comemoração começa ainda no dia anterior, a Koninginnenacht - a Noite da Rainha - é uma festa em que os jovens saem a noite pra festejar, assistir shows espalhados pela cidade e estar com os amigos. Pra quem é mais reservado ainda há eventos culturais em locais fechados ou ao ar livre.
E finalmente no outro dia o país está em polvorosa! As pessoas estão alegres nas ruas, amigos aos poucos vão se encontrando, as ruas vão começando a ficar movimentadas. Me pareceu bastante com o clima de festa do nosso Carnaval.


Onde está o Wally?

Na manhã do dia 30 a família real passeia por alguma cidade previamente escolhida. É o único dia do ano em que podem caminhar (nem tão livremente) pelas ruas. Eles vão andando enquanto a população fica ao redor esperando ansiosamente para apertar a mão da realeza e entregar flores, quadros, cartas e outros presentes. Ainda há apresentações culturais para a família e, bem... eles tem de participar de tudo que é oferecido (esse ano rolou para os príncipes uma rodada de bambolê e lançamento de vaso sanitário, por exemplo), mas tirando as pequenas peculiaridades o evento é divertido. A família real parece realmente animada em encontrar seu povo, conversam com as pessoas, entram mesmo na comemoração (confesso que me é estranho ver uma adoração tremenda por uma família real, mas isso é de alguém que já nasceu numa república!, não me cabe julgar).

O príncipe Guilherme, sua esposa, a adorada princesa Máxima, e a rainha Beatrix (também conhecida como a fada madrinha dos filmes da Disney)

E os eventos não param por aí: espalhados por todos os cantos estão os Vrijmarkt - Mercado da Pulgas. As famílias juntam seus objetos velhos (CDs, roupas infantis, brinquedos, jogos, bicicletas), montam uma banqueta ou uma toalha no chão de uma rua ou parque  e ali começam a vender. É uma forma de conseguir mais dinheiro e de ensinar as crianças um pouco de economia (rola um monte de criança anunciando seus preços e negociando as vendas enquanto os pais apenas assistem). É um programa bastante família.
Eis que estava eu andando por um Vrijmarkt aqui perto, entendendo o lugar, vendo o que era vendido, quando meus olhos recaem em um nem tão pequeno objeto... Andei três passos, parei, chamei meu colega e disse que tinha de voltar. Ali, em um dos muitos mercados do país, eu me deparo com o livro Biologia Molecular da Célula, o bom e velho Alberts da biologia molecular... Terceira edição (velhinho, mas super bem cuidado), em Inglês... Sozinho, esperando uma boa alma para levá-lo pra casa. Aí, em menos de 10 segundos, ocorreu a seguinte conversa:

-Olá, quanto custa esse livro?
-O de biologia molecular? 3 Euros.
-Eu quero ele!! (mulher sorri, eu sorrio mais ainda, pago, ela me dá o troco)
-Que bom, não esperava vendê-lo!
-Eu imagino... Muito obrigado, tenha uma bom dia!
-Tenha um bom dia! (mais sorrisos)

Depois foi só aguentar meus colegas rindo por eu ter ido pra um mercado de pulgas no dia da Rainha comprar um calhamaço de biologia e sair todo contente!!

A prova do crime

Ainda há muita festa, pessoas em barcos nos canais fazendo festa, Amsterdam fica lotada, muito laranja por todos os lados...
Claro que às vezes as coisas saem do controle. Em 2009 alguém jogou um ônibus na multidão que assistia a família real, acabou matando 6 pessoas. Os trens costumam ficar lotados em direção à Amsterdam e é comum pararem de funcionar, as rotas têm de ser alteradas e se instala o caos. Esse ano os festejos quase não ocorreram, o príncipe Friso teve um acidente esquiando na Áustria e ainda está em coma, mas a rainha decidiu manter todas as celebrações, uma vez que os ânimos aqui andam meio baixos, já que há uma crise política (o primeiro-ministro Mark Rutte renunciou há poucas semanas) começando a refletir negativamente na economia.
E assim, chega o fim mais um Dia da Rainha. Aos poucos as pessoas vão voltando pra suas casas, algumas não lembram do que fizeram nos últimos dois dias, o laranja vai sumindo... e logo a vida entra no eixo novamente. 
Vai dizer que não lembra o Carnaval... (e o seu efeito na memória das pessoas!)

domingo, 6 de maio de 2012

Ai se eu te pego Holanda!

Cheguei na Holanda, fui conhecer o local onde ia morar, encontro meu novo colega de casa, passamos pelas apresentações, converso com a família dele, cada um conta um pouco da sua vida, perguntam "como é o Carnaval?", "e o clima brasileiro?", ligam o som e penso: legal, vamos conhecer a música holandesa (estava curioso pra saber como era).  Música ligada, aumentam o som e começa um "nossa, nossa, assim você me mata...".

"Fujam pras coliiinas!!", pensei eu, mas lembrei que aqui não há um único lugarzinho alto pra se esconder (o ponto mais alto está a módicos 320 m de altitude e ainda é dividido com a Bélgica e Alemanha).

Depois que o Cristiano Ronaldo decidiu dançar o 'Ai se eu te pego', nossa música virou febre na Europa. Quando aqui cheguei ela estava em 4º lugar nas mais tocadas, isso depois de muitas semanas em primeiro.

A música até ganhou uma versão holandesa. Eles até tentam ter o gingado brasileiro, mas apenas tentam... Rola até um 'yo te quiero' no meio, realmente brasileiro! (Já me perguntaram várias vezes se no Brasil falamos Espanhol...)


E quem disse que uma versão é suficiente? Achei pelo menos umas quatro. A versão do Gerard Joling é a mais pitoresca e, digamos, assanhada (com direito a passista de samba e... criança no colo do cantor!?). Já a do Tom Haver parece ser a mais famosa. Mas o que mais se ouve é a versão em Português mesmo; Michel Teló até esteve em Amsterdam pouco antes de eu chegar.

Honestamente, estou adorando ouvir música brasileira aqui, por mais que haja uma massa no Brasil torcendo o nariz pra essas músicas. Faz parecer que o Brasil ainda existe, que tudo ainda estará no lugar quando voltar. Toda vez que ouço "Ai se eu te pego" tocando eu dou um sorriso e me orgulho de ser brasileiro, não posso negar nossa cultura. Popularesco ou não, é brasileiro!

E depois do Michel Teló quem está aparecendo é o Gusttavo Lima com sua "Balada". Ontem saiu a notícia de que ele virou top 1 na Holanda! Agora é só esperar pra surgirem as versões traduzidas...

O site holandês MegaTop50 fez o favor de listar todas as músicas em Português que já foram top 1 na Holanda, achei a lista curiosa:

-Johnny & Orquestra Rodrigues, "Hey Mal Yo" (1975) - Portugal;
-Kaoma, "Lambada" (1989);
-Cidinho e Doca "Rap das Armas" (2009);
-Lucenzo & Don Omar, "Dança Kuduro" (2011) - tá mais em Espanhol, mas vale;
-Michel Teló, "Ai se eu te pego" (2012);
-Gusttavo Lima, "Balada", (2012).

E não é só na música que somos lembrados (infelizmente não é na literatura...). É claro que só poderia ser o nosso futebol. Já me falaram do Pelé, do Garrincha, dos Ronaldos, do Neymar, do Flamengo, do Santos e... do Paysandu (cuma? não me pergunte). Muitos esperam ansiosamente pela Copa de 2014 e agora que eles conhecem um brasileiro parece que eu e minha casa viramos famosos!! (Na verdade eu já convidei todo mundo pra me visitar na Copa, então será que você teria um espacinho sobrando na sua casa em 2014?)

terça-feira, 1 de maio de 2012

Uma questão de língua

Quando surgiu a oportunidade de vir pra Holanda, não pude deixar de perguntar: não tenho a mínima ideia de como se fala Holandês, como posso sobreviver lá?
Depois de me garantirem que "99% dos holandeses falam Inglês" resolvi acreditar e me arriscar para descobrir (só que era uma viagem sem chance de voltar se desse errado).
Agora, mais de um mês morando aqui, tendo me perdido algumas vezes, andado por várias cidades, eu pude constatar: praticamente todo holandês fala Inglês sim (Para nooooossa alegria!!).
Até agora só encontrei crianças e pessoas idosas que não falavam Inglês, no mais a pessoa pode não ser fluente, mas pelo menos consegue se virar pra ajudar um brasileiro que chega no mercado e pergunta o nome daquilo que ele está segurando, porque na embalagem só está escrito em Holandês e Alemão (sim, eu fiz isso). E as pessoas não se importam em falar outra língua, nada daquela coisa de "se você mora aqui aprenda a língua local", eles te respondem em Inglês sem problemas. Claro que é educado aprender algumas palavrinhas básicas, um 'bom dia', 'até mais' (e às vezes até passo por nativo só com elas). No caixa do mercado já aprendi, são sempre duas perguntas: "você tem algum cupom de desconto?" e depois "você quer a nota?", é só responder "Nee" ou "Ja", encerrando com um "Dank u wel" - um 'muito obrigado'.
E seria uma língua boa de ouvir se não fosse o famigerado 'g': ele soa como um 'r' falado enquanto se produz catarro na garganta (desculpa, não encontrei um jeito melhor de explicar). Assim o "goedemorgen" - bom dia - fica como "rrrêdemórrrên" É, fica feio de ouvir!
O Holandês está para o Alemão mais ou menos como o Espanhol está para o Português. A vantagem do Holandês é não ter todas aquelas declinações impossíveis do Alemão, mas como a vida não é perfeita ainda aparecem algumas monstruosidades: a mania de ir juntando palavras para formar novos significados; corri pro site de um jornal holandês só pra achar uns exemplos:
     geschiedenisonderwijs = ensino de história
     begrotingsonderhandeligen = negociações do orçamento
     luchtvaartmaatschappijen = companhias aéreas
São 3 palavras juntas por vez!
E, pra falar a verdade, de Holandês mesmo tenho ouvido pouco, só quando ando na rua ou pego ônibus. Lá no meu estágio trabalham pessoas de todos os continentes (tá, não tem pinguim, então da Antártida não), dá pra ouvir todos os tipos de línguas: Mandarim, Vietnamita, Francês, Alemão, Espanhol, Árabe e também o Português (sim, tem outros brasileiros e portugueses). Nessa muvuca de línguas só uma poderia ser a 'oficial' pro povo se entender, o Inglês.
E na dúvida, se nem o Inglês ajuda, cada um se vira como pode: ontem, pra me explicarem que estavam preparando carne de carneiro, não ouve hesitação em soltar um sonoro 'méééé' pra ver se o brasileiro entendia. Todos riram... e funcionou!