sábado, 30 de junho de 2012

Holanda pra turista ver

Se eu te falar a palavra 'Holanda', qual o primeiro pensamento que vai à sua cabeça?

Alguns até podem ter lembrado das vacas ou do futebol, mas tenho certeza que a grande maioria pensou em maconha e prostituição.

Esperei um tempo necessário, mas chegou a minha hora de falar destes assuntos; precisava conhecer as pessoas, andar por aí e sentir a vibe; eu tinha de ver como um morador local, não como turista. Claro que em três meses não se pode entender toda uma cultura, mas confiando na minha curiosidade e observação, formei uma opinião sobre este povo e seus costumes.

A ideia de liberdade e o estabelecimento de limites

A Holanda é um país vanguardista e liberal. Aqui as pessoas são livres pra fazerem o que bem entenderem, experimentarem o que quiserem, sem se preocupar com regras ou ilegalidade...

Pois é, isso é coisa pra turista pensar em um fim de semana em Amsterdam (seguinte: Amsterdam é muito, mas muito, diferente de qualquer outra cidade holandesa).

O que os holandeses entendem é a sua liberdade individual. Se você quer ir pro bar, beleza!, pode ir; se você quer ficar doidão, ok!, o coffee shop está lá; tá na seca?, a vida é sua pra resolver como quiser. Isso é liberdade individual, sua possibilidade de escolhas; o governo não incentiva o uso da maconha ou a pagar por sexo, mas também não proíbe.

Um cidadão holandês pode ter alguns pés de Cannabis na sua residência, apenas para seu próprio consumo. O que ele não pode é cultivar uma plantação profissional e sair por aí formando uma rede de tráfico, sobrevivendo a partir da maconha. Quando a maconha é plantada para venda, não é mais a sua liberdade individual, mas um fator que afeta a sociedade como conjunto. E, na sociedade, tráfico é crime, não pelo simples fato de ser tráfico, mas pela criminalidade envolvida, pelo risco causado aos usuários, às famílias, à qualquer um - sendo brasileiros, vocês sabem o que digo. (Aí entra algo confuso desta lei: é permitido consumir, é permitido comprar, mas não se pode produzir... Tem algo errado nessa lógica, né não?).

A situação da prostituição é semelhante. O governo entendeu que se alguém quer trabalhar por isso, é um direito da pessoa. Além disso, a legalização da prostituição rendeu mais dinheiro pro governo com o pagamento de impostos e taxas.

Ok, é liberado? É. Socialmente aceito? Mais ou menos. O povo em geral apenas se acostumou com a ideia e aprendeu a não dar bola, mas isso não significa que todos aprovam. Há pessoas idosas e jovens que são completamente contra e, do mesmo modo, os que são a favor (e nem por isso são usuários "assíduos").

Quando "liberdade" se traduz em "farra"

A Holanda discutiu seus problemas internos, lidou com a liberdade individual e criou suas regras. Aí o mundo viu que era bom e... decidiu fazer a farra na Holanda.

Hoje existe muito turista que vai pra Amsterdam só pra ficar fazendo rodízio de coffee shops ou, então, grupinho de jovens fazendo rodízio de mulher mesmo. Foi assim que a fama da Holanda se formou, no abuso da boa vontade do país. Esqueçam das comidas típicas, esqueçam das tulipas, esqueçam de Van Gogh, Rembrandt, Escher, esqueçam que esse é um povo pacífico e que a capital mundial da justiça e da paz é Haia, esqueçam que esse povo foi bombardeado na 2ª Guerra apenas por estar no meio do caminho de Hitler. Esqueçam da Holanda e terão apenas maconha e prostituição.

A grande confluência de "visitantes" no país fez o governo rever suas leis. Há o incentivo para a abertura de mais lojas no Red Light District (onde as prostis ficam na vitrine...), numa tentativa de diminuir a prostituição e valorizar aquela região. E a partir de 2013 os visitantes não poderão mais consumir maconha legalmente; apenas moradores locais portando uma carteira específica de identificação poderão comprar nos coffee shops.

"Conheci a Holanda, fui pra Amsterdam!"

Seguinte, se você realmente quer conhecer a Holanda, não vá pra Amsterdam (ou vá pra Amsterdam, mas visite pelo menos umas outras três ou quatro cidades). Você vai perceber que Amsterdam é a exceção da regra das cidades neerlandesas.

O comércio de Amsterdam soube muito bem como ganhar dinheiro com a fama. Em qualquer esquina você encontra abridores de lata em formato fálico, imãs de geladeira com mulheres seminuas, camisetas com uma grande folha de Cannabis estampada. Mas deixa eu te avisar: isso é coisa pra turista mesmo, pra ganhar dinheiro.

Amsterdam é caótica, é mal cheirosa, é abarrotada (e mesmo assim é linda de se olhar e excelente pra se visitar). Se você quer conhecer a Holanda vá pra Haia ou visite Gouda, Rotterdam, gaste um tempo em Haarlem ou Delft, Leiden, Utrecht. Se você quer conhecer a Holanda precisa andar de bike e comer stroopfwafel (o waffel holandês), precisa ver um moinho ou andar pelos canais. A Holanda tem tanta cultura, uma história fascinante, um povo maravilhoso de se conviver, não se prenda por clichês ou conhecimentos rasos (é o mesmo tipo de ideia em relação ao Brasil: a capital é Buenos Aires?, vocês falam Espanhol ou Brasileiro? como é morar na África? você é do Brasil e tem olhos azuis? - essas perguntas eu ou meus amigos já ouvimos no exterior!)

Sua visão do que é Holanda vai depender do que você quer ver, do que você espera. Pode vir pra cá e achar que é um país movido por drogas e prostitutas. Ou pode ver um povo, uma cultura, uma história. É aos olhos do freguês.

"Então, Felipe, você é a favor da maconha!"

Se você concordou com a frase acima pode parar por aqui e voltar pro início do texto. Em nenhum momento expressei minha opinião, apenas relatei o que pude perceber nos últimos meses.
Minha opinião? Contra e contra. Ambos os casos. Punto e basta

E voltamos com a programação normal do blog...

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